Não sabemos o dia nem a hora

Ontem tive a infelicidade de ir a um funeral.
A primeira coisa que me choca sempre é o contraste de emoções que sinto quando vou a um funeral de quem não me é próximo no dia-a-dia, embora sendo familiar directo.
Sinto uma tristeza própria da percepção que perdi alguém que nunca mais vou ver. Logicamente sei o que aconteceu, mas no meu coração demora a entranhar essa realidade - tipo as noticias de mortes na televisão - sei mesmo que é verdade pelo sofrimento dos seus filhos e esposa. Nestas alturas a minha vontade de chorar vem mais de ver a sua dor, ou do medo do dia em que me toque a , do que propriamente do meu entendimento.
Disse acima contraste pois ao mesmo tempo sinto alegria ao ver juntas algumas pessoas que me são queridas de quem tenho saudades. N'alguns casos há pessoas que há mais de 2 anos que não os via.
Na igreja perturbou-me o silêncio, um silencio que não deveria ser, que não é de paz - é de dor. Este silêncio, só interrompido por tosse, telemóveis ou conversas e carros vindos da rua, nem é preenchido por orações, que talvez viessem a consolar alguns crentes, família e quem sabe a própria alma do defunto, caso seja uma pessoa de fé. Não há quem saiba- na televisão não se aprende isso e poucos se recordam de algo mais que o 'pai nosso'. Nestes casos apercebo-me da fragilidade da minha fé...quero acreditar, mas acabo por fazer as coisas mais por superstição e cautela - algo do tipo : não acredito mas e se houver...deixa cá fazer umas oraçõezitas que nunca se sabe e por vezes sinto mesmo a presença de Alguém.....ou talvez seja só impressão mesmo....
Mas voltando ao assunto do silêncio - ao menos que alguém se levantasse e dissesse algo sobre o homem, que ainda por cima morreu de acidente, e que servisse de inspiração, que enchesse aquela família de orgulho por ter tido um pai tão alegre e trabalhador, com as suas fraquezas e virtudes próprias de um humano. Que ficasse algo, que fosse recordado como homem vivo e não como um corpo numa caixa de madeira pelas 18h numa igrejita no interior onde chegam as pessoas que já não o viam há muitos anos e desaparecem pelas cerca de 1h30 depois de terem chegado - "obrigação cumprida - ainda chegamos a tempo de jantar em casa."
Uma coisa fica-me destas alturas - o aviso : "estai preparados, não sabeis o dia nem a hora"A malta mais velhota vai-se preparando....pelo sim pelo não é melhor fazer o mesmo, antes que o jantar arrefeça...

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